Ao assistir a entrevista de Ciro Gomes ao El País, concordei com a maioria dos fatos expostos por ele e foi possível compreender em parte, as mágoas que transpareceram na fala do seu irmão, no palanque para o segundo turno da campanha de Haddad e o seu não-apoio formal à candidatura dele, na véspera do segundo turno, 28 de outubro do ano passado.
A alguns amigos e familiares antes mesmo de ver a entrevista, eu já dizia que a culpa do que ocorreu também é do PT. O que vimos após finalizada a guerra eleitoral foi o antipetismo vencer, foi uma batalha anti-PT X PT.
Não esmiucarei aqui o fato da ineficiência educacional que ocorre desde os anos 90 para cá, com a progressão automática e como ápice, o analfabetismo funcional crônico generalizado por esse método e, que interfere diretamente na capacidade de interpretação de textos pelas massas. Eu teria que fazer um artigo acadêmico detalhado sobre este ponto e como este é um artigo de opinião, preciso de objetividade e concisão para expor meu ponto de vista.
Além da sucessão de fake news do candidato vencedor, alastradas na velocidade do vento pelas redes sociais, outro fator a ser considerado pela esquerda progressista foi a falta de humildade e de bom-senso do PT, ao não querer formar uma frente única de esquerda com os outros partidos, o sentimento de ódio ao partido estava e ainda está latente. Houve um erro estratégico em não aceitar a retaguarda e se preservar, além de dar espaço no jogo democrático, mantendo o governo na matiz de esquerda. Dada a gravidade dos acontecimentos que antecederam as eleições de 2018, pipocaram candidaturas de todos os gostos e bolsos, desde 1989 não havia uma eleição presidencial tão acirrada.
E o acirramento se deu principalmente no campo ideológico, entre extrema- direita e esquerda burocrática. Uma eleição com marcas profundas inclusive nas relações pessoais.
O processo de hegemonia petista durante 16 anos, como sendo a única esquerda possível no país e orbitando em volta de Lula e seus afilhados, gerou uma relação licenciosa e por vezes equivocada com a máquina pública; não há de se negar a geração do pleno emprego e o consumo aquecido, mas os meandros do poder vistos e descritos por quem também o deteve – enquanto ministro – parecem no mínimo dignos de serem consideradas na análise.¹
Uma coisa que devemos considerar após 9 dias do ato consumado é, como vamos nos colocar enquanto oposição? Para quem é inteligente não afeito a ideias messiânicas, a fala de Ciro sobre isso soa como uma provocação positiva, em que agora devemos partir para a ação, mas de maneira cujo Bolsonaro seja obrigado a discutir coisas longe da sua zona de conforto, afinal muita gente naquele balaio de eleitores não era fascista esclarecida. Não mais proposta e sim o plano de ação para gerar empregos o mais rápido possível, o que o governo está fazendo para isso? Como vai fazer as audiências públicas, para formular a reforma da Previdência em conjunto com as pessoas? Não adianta apenas repetir palavras de efeito e nem o mesmo discurso eleitoral, governar o país tem uma série de assuntos que um presidente precisa conhecer e intervir corretamente.
Isso implica também na nossa saída da zona de inércia, enquanto progressistas, passada a raiva, a negação e agora estamos na fase da resignação, devemos nos resignar porque voto é parte do Estado Democrático de Direito, mas ela tem que ser ativa, não podemos nos desligar para não perdermos a nossa liberdade que foi a duras penas conquistada. Devemos ser vigilantes e manter a lei de acesso à informação funcionando, cobrar boas práticas nos gastos públicos, dessa forma o governo federal não poderá se esquivar da transparência e respeito às leis que apesar dos pesares, a população sabe que é fundamental na vida das pessoas e para o bem do país.

¹Ciro Gomes foi ministro da Integração Nacional de 2003 a 2006