
Pra encerrar o a série de textos sobre o 8M, publico o texto da Mila Farão, escritora do blog Escritas domésticas.
8M de 2003
ninguém ensinou rosa
a odiar polícia
avessa a qualquer autoridade
aos 13 anos
panfleta jornal de baixo custo
contra a ALCA e o FMI
suas bochechas
com o espelho do feminino
em tinta roxa
8M de 2007
participando de um grupo
de estudos sobre
o segundo sexo
rosa ergue o cartaz
“pela legalização do aborto”
estranha a leveza do seu ventre
ao estar coberta de mulheres
e ver em seus traços e força
a beleza da multiplicidade
8M de 2011
rosa com a faixa de seu sindicato
denuncia a terceirização dos serviços
o feminicídio e exige o fim da dupla jornada
sua mão cheira candida da faxina
de ontem
ergue a cabeça e grita na voz rouca
8M de 2014
batucada pra xangô
na mão de mulheres
rosa abre o ato com suas amigas
tocando no djembê os xirês
ao orixá da justiça
angela davis mostrou
o abismo entre brancas e pretas
e a ponte florida que as unem
8M de 2019
rosa amuada
viu marielle morrer
dor na coluna do aumento neoliberal
caminha na companhia de um latinha
esgotada
suas batatas pesam toneladas
na mente acompanha “ele não, ele não “
chega em casa
capota sem escovar os dentes
salta da cama tampando a boca
pela aflição do pesadelo
em que eles caiam