
São Paulo, março de 2020
Dia 8 da quarentena
Ainda mantenho minha sanidade mental. Por enquanto, o começo da quarentena foi o momento mais difícil de assimilar. Não sei se as coisas ficarão melhores nos próximos dias, tenho assistido ao telejornal no mudo, lendo o closed caption.
Ainda consigo abstrair da realidade e neste momento me aconcheguei na lembrança de uma aventura casual que tive há um tempo atrás. O moço já foi muso inspirador de alguns textos meus, nosso último date foi no flat em que ele estava, na Vila Olímpia.
Ele veio a SP a trabalho, juntou a fome com vontade de (me) comer, nos falamos e o Universo conspirou a nosso favor. Encontramos a variável D de desejo e nos vimos mais uma vez.
Vivemos aquele encontro como se fosse o último e por enquanto é. Pode ser que um dia a gente se reencontre, pretexto já temos, basta sobrevivermos a esse fim do mundo.
Puro luxo no rolê e desejo mútuo. Entramos naquele quarto tão apressados em arrefecer nosso fogo que nem percebemos as cortinas abertas, a meia luz iluminava o vidro da janela, panorâmica. Era tanto tesão que parecia cena de filme, com direito a desabotoar a camisa botão por botão e nós, alheios aos olhares nos prédios vizinhos, nos entregamos sem reservas.
No sofá, encostados na parede e na cama, nossa transa sendo refletida na vidraça pra quem quisesse ver. Quando caímos na real já era tarde, tínhamos gozado e deitados na cama que percebemos as cortinas escancaradas, meu muso se levantou da cama num pulo e lépido as fechou. Rimos muito porque já não tinha mais o que esconder, transamos mais uma vez e dessa vez com as cortinas fechadas.
Confesso que gostei, se isso fosse planejado talvez não seria tão bom como foi. Inconsciente, realizei uma fantasia que deliberadamente eu não teria coragem de fazer.
Tenho um imenso carinho pelo meu muso, nossos dates são inesquecíveis, oníricos, inesperados para um lance casual. Foi tão bom conhecê lo, que meu subconsciente ativou essa memória e me fez escrevê la. Me fez esquecer por alguns instantes do isolamento.