
São Paulo, abril de 2020.
Dia 25 da quarentena.
Tenho evitado ver os telejornais, para desintoxicar a mente, mas, as notícias que vejo na internet não são nada animadoras.
O crescimento descontrolado dos casos de corona vírus ainda vai piorar muito e há a possibilidade de permanecer assim durante o próximo mês e pelo mês de junho. Meu afastamento irá até o meio de maio, espero realmente que até lá a situação esteja sob controle, mas, estamos no Brasil…
Provalvemente, terei que ir até às últimas consequências para garantir a prorrogação do meu afastamento, caso necessário, porque não sou obrigada a me colocar em risco, à minha família e ver pessoas que passarão nas estações, que são do grupo de risco, mas que pela teimosia querem passear. Eu não tenho psicológico pra isso e vou querer sair na mão, dane-se se é velho!
Enquanto escrevia esse texto, saiu a notícia de que o Moraes Moreira morreu, aos 72 anos e a causa da morte ainda não foi confirmada. Como ele morava sozinho, não dá pra saber se foi mais uma vítima da pandemia. Que tristeza!
Que tristeza morrer e não poder velar os mortos, o enterro sem despedidas, numa vala comum e sem lápide.
Nesses 25 dias em casa, posso dizer que é a primeira vez em que sinto medo real de morrer disso, mesmo não saindo de casa à toa. Mas no sábado tive que ir ao supermercado, a fome e a necessidade são imediatas, ainda tenho uma mixaria de renda, mas o medo de morrer é muito grande. Tenho que inspirar e expirar para não pirar, para que a morte não se torne uma paranóia e eu não surte.
Enquanto o mundo e Brasil derretem pela pandemia, também padecemos por não existir um chefe de estado nesse país. Pelo contrário, há um maldito infectando pessoas e o ambiente por onde passa, com sua presença fétida e o corona vírus que carrega consigo, uma superdose de cloroquina ainda mantém esse demônio vivo.
A que horas esse lixo tóxico será descartado? Será que o clamor é pela Junta Provisória assumir logo e parar com esse jogo de cena? A que horas a Ceifadora vai tirá-lo de circulação? Minha mãe diz que não se pode desejar o mal pros outros, mas, definitivamente não dá pra desejar nada de bom a quem só faz o mal.
Minha amiga acabou de me dizer que seu tio foi internado hoje. Há 99,9% de chances de ser Covid-19. Todos os sintomas coincidem, ele é idoso, hipertenso e agora aguarda vaga na UTI da Santa Casa, ele ainda não foi testado. A Santa Casa que quase fechou suas portas há 3 anos atrás, por desvio de verbas pelo conselho curador, ninguém foi punido. Que ele e todos os que estão sofrendo consigam sair dessa, com vida e sem sequelas…
Compartilharei um cordel, que atribuem ao Moraes Moreira, supostamente ele o escreveu algumas semanas antes de morrer. Não consegui confirmar a fonte, porém o conteúdo me contempla.
Atualização às 21h09min, O cordel era dele e a causa da morte foi infarto
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mas atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem idade”