São Paulo, 13 de Março de 2021,
Dia 365 da Trezentena.
Um ano de Quarentena para mim.
O meme se tornou real.
O que antes era uma hipérbole de princípio de quarentena, agora é uma realidade ainda mais assustadora!
Passamos de 270 mil mortos no Total e recentemente a barreira de 2 mil mortes diárias.
A pandemia no Brasil é aqui e agora. Graças ao desgoverno federal que pisa em cima dos corpos empilhados e do sentimento das pessoas que ficam e nem podem velar seus mortos. Para o despresidente isso é mimimi, coisa de maricas!
Maldito seja esse homem e todos os que o rodeiam!
Ainda bem que existe a Lei do Retorno, que virá bem pesada pra eles. Que a Providência Divina me permita assistir e aplaudir de pé a merecida derrota desses seres abjetos!
Quem me acompanha desde o começo da quarentena percebe a mudança no meu jeito de escrever, no decorrer da quarentena, que virou oitentena, duzentena e logo menos será uma quatrocentena.
Passou da esperança inicial de que as coisas podiam melhorar, pela indignação com o negacionismo, pelo saudosismo, pela vontade de mudar as coisas e não poder por estar prisioneira.
Agora cheguei na profunda revolta e prostração, na qual todas as minhas energias foram sugadas e até a minha vontade de escrever está minando.
A única coisa que permanece é a minha saudade de ser livre.
Na verdade eu queria uma balada nova, falando de brotos e coisas assim: mas ando com preguiça até de interações pessoais, de conhecer novas pessoas (virtualmente) e me submeto a uma autoflagelação suave, de me conservar numa situação que num cenário de vida normal eu jamais me permitiria estar.
Acho que me penitencio de alguma culpa, mas culpa por quê? Eu realmente não sei… Preciso de uma terapia que me ajude a desnudar o meu Inconsciente e entender isso.
No meu bairro não tem Lockdown, tem muito negacionismo e ausência do Estado desde sempre. Então por que seria diferente agora? Aqui é o arrivismo em seu estado bruto.
Moro há mais de 30 anos aqui e sempre foi assim, tudo muito difícil e inacessível, as pessoas cresceram ao largo das iniciativas governamentais, não é de espantar que tenham profundo desprezo por governos e instituições e prezem pelo individualismo nas ações em detrimento da coletividade.
Aqui tem muita igreja evangélica e muita gente que foi simpática ao discurso chulo do despresidente, agora a realidade se impôs e tem muito bolsominion arrependido, mas, a tendência é que esse círculo vicioso de esperar Deus prover e um Salvador da pátria, continue por vários anos…
Ainda tem 628* dias restantes para o ranger de dentes, embora ninguém garanta que depois disso será melhor. Porém se for menos pior do que é, já será um alívio.
Quanto à pandemia o tempo de duração é desconhecido, com certeza é esse ano todo. 2020 reloaded numa versão piorada.
Por isso que a galera tá pirando, tenho um amigo que está penando, vítima do alcoolismo. Eu o conheci no auge da vida, correndo ultramaratona e agora o vi tomando às 9h da manhã uma barrigudinha inteira! O pandemônio virou um teste de resistência em que muitos estão recaindo, não por incompetência individual e sim porque esse tempo está insuportável demais!
Se você não mora no Brasil, imagine a sensação de estar abandonada à própria sorte. É assim que estamos aqui…
E quem não recaiu, ainda assim usa drogas lícitas ou recreativas pra suportar esse momento sombrio.
Tem dias que onze da manhã também tenho vontade de beber, mas fumo um baseado, o ansiolítico já não está dando conta sozinho e tenho fumado maconha quase igual a cigarro, quase não me dá mais barato. Que porcaria!
Seja na droga ou na oração, pra aguentar o tranco, a gente necessita de coisas que nos aliene e tire da realidade por alguns instantes.
Eu e todo mundo não imaginamos passar por isso e quando começou a quarentena, jamais podíamos imaginar que daqui 35 dias, completaremos uma quatrocentena.
E a situação está completamente fora de controle, um ano depois!
Se Deus é por nós, quem será contra nós?
Nós mesmos!
*correção: infelizmente, ainda faltam 656 dias para esse suplício acabar (14/03)
